quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Crônica do amor - Arnaldo Jabor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
Não pergunte pra mim você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Tu e eu - Luis Fernando Veríssimo

Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só crescer
até dar pé.
Eu não sei aonde quero chegar
e só sirvo pra uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.

Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy.
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada em Lobão
eu sou mais albinônico
Tu, fão.
Eu, fônico.

És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico.
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.

Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou o penitente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.

És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu, cano.
Eu, clidiano.

Dizes na cara
o que te vem à cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu, tano.
Eu, femismo.
VOU PARAR DE ACREDITAR.
JURO QUE VOU!

QUERIA SER UMA PEDRINHA
E NÃO SENTIR
INANIMADAMENTE
PROFUNDAMENTE
SEM CORAÇÃO.


(te espero na janela, pra te ver passar, sem ninguém saber.)
Aposto que de ti não sei mais nada.
Aposto que mudamos o rumo da nossa caminhada.
Crescentes desencontros, já não sabemos mais quem somos.
Me lembro o tempo inteiro de não me lembrar de nós mesmos.

Queremos outras paisagens, queremos alcançar a plenitude.
Mas tu queres a verdade e eu algo que só me ilude.
Não tentaremos mais seguir em frente um do lado do outro.
Viveremos em opostos, tendo aquilo que merecemos.
Sentindo outros gostos, talvez sendo mais felizes.

O que me desagrada é essa história de oposição.
Não era isso que dava certo? com opostos rola atração...
Não é bem assim que a coisa funciona.
Tua cabeça é de barro, a minha de lona.
Quem ainda nao retratou o desencaixe da sua cara-metade?

Eu acho tudo muito quieto, muito natural de mais.
Ainda que fosse como antigamente, um fogo ardente, lancinante.
Atrapalhando meus sentidos, atordoando, era bom.
Agora deixou de ser.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

I'll be waiting...


Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho.
Voou, voou, voou, voou.
E a menina que gostava tanto do bichinho,
chorou, chorou, chorou, chorou.
Sabiá fugiu do terreiro, foi cantar no abacateiro e a menina triste a chorar:
"vem cá, Sabiá, vem cá".
"Sabiá, estou te esperando", a menina diz soluçando.
Sabiá responde de lá:
"Não chores que eu vou voltar..."































"Às vezes precisamos ter paciência e aprender que o amor não é posse. É bem maior que isso. É cuidar, é compreender, é compartilhar, é respeitar, é outras tantas coisas (...) é preciso viver, sentir na pele o que é o amor."

terça-feira, 12 de agosto de 2008

rimas fáceis sem poética
e o povo consome tudo que essas gravadoras emburrecedoas fornecem.

PAI, AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE!
CALE-SE!