terça-feira, 12 de março de 2013


Contos de Pecadinhos - Pela vida, pelos três

Eram dois, depois se tornaram três. Já havia mais de 6 meses que mal se olhavam nos olhos, para não dizer 6 meses sem um toque, sem um beijo, sem palavras inteiras. O bebê era uma mistura dos dois, os olhos dela e as expressões faciais dele. O amor que já não existia era um integrante da família e era quem tomava conta do primeiro filho. Ela cumpria suas funções de mãe, pela obrigação e pelo amor que tinha pelo seu fruto, mas já não fazia questão da presença daquele ser, que outrora fora sua metade e hoje se parecia mais com um estranho invasor do seu mundo de mãe e filho. 
Ele sentia-se só, não se aproximava mais dela porque desde que dera a luz parecia um tanto arredia e inconstante. Não dormiam mais no mesmo quarto, ela não lhe desejava se quer boa noite, com muita sorte pedia para ele desligar as luzes quando fosse dormir. Ele passou a chegar tarde do trabalho, para não ter que sentir-se um intruso em sua própria casa - que já não era um lar. 
Ela tinha medo de perdê-lo, mas não sabia o porquê. Não o amava mais, certo? Ela não sabia. Esperava que aspereza dos seus atos chamasse a atenção dele, que ele tentasse reconquistá-la de alguma forma, que pedisse desculpas pelo tempo que ele passava ausente, que fosse romântico e dissesse que a amava. Mas ele não o fez. 
Ele, por sua vez, sentia mais medo ainda, achava que ela não o amava mais por ele não ser bonito, não ter todo o dinheiro do mundo e por ter dado possivelmente a coisa que ela mais queria no mundo: um filho, Ensaiou diversas vezes um discurso para dizer que a amava e que se ela não o correspondia mais que o deixasse e pedisse para ele ir embora. Mas a coragem nunca o deixou tomar atitudes.
Ela espera que ele se aproxime para vê-la de perto. Ele espera que ela o queira por amor, por ele amá-la também.
No fundo os dois ainda se amam.


segunda-feira, 11 de março de 2013

O ressurgir das Secretas

Não é que de repente eu saiba o que estou fazendo.
Mas quando me ponho a pensar, me pego vendo.
Elas voam de encontro a mim, as aspas, os fins.
As palavras mortas, já enterradas no meu eu, em mim.
Matutas, astutas, molecas, de merda e afins.
Poucas se mostram inteiras, outras à beira.
Ostentam o brilho do ouro e eu só lhes dou da cera.
De luz fraca e suspiros espaçados, me volto ao meu interior inexplicável e indiscutível.
O irremediável prazer de verborragizar.

Poesia não leva ninguém a lugar nenhum, mas nos leva a lugares onde pessoas jamais vão.