terça-feira, 25 de setembro de 2012

Verdades  Confabulosas

Não atribuo culpas
Não enxergo as falhas tuas
Mas me machuco todos os dias
Durante as minhas lutas
Por dias verdadeiros
Por mentiras esquecidas
Por dores menos minhas

Viro meu corpo no espelho
Não enxergo medos
Tampouco ultrapasso desejos
Vontades que se escondem nos meus cabelos
Que verão a luz do dia em meus sonhos mais fantasiosos.

Deixo de falar, não é por falha
Não deixo de amar por ser quem sou
Só eu posso amar por mim
Meus sentidos, sou eu quem sinto
Meus olhos enxergam quase tudo
Minha verdade de ser é nua, não minto
Na minha alma verde sou crua
Mas nas minhas bagagens só posso ser contemporânea de mim mesma, o que é mais difícil.
Contos de Pecadinhos - Dois dias 
Hoje completam dois dias que ela descobriu. As lágrimas ainda saltam quando a lembrança passa em seus olhos em milásimos de segundos. Ela tem se controlado muito bem, mas quando põe os olhos e qualquer coisa que a lembre dos anos que passaram juntos, o mundo desaba.
Seus olhos saem de foco, nem e-mail, nem revista, nem comentário de foto. Nada prende sua atenção na frente do computador. 
Ela decide ouvir música. Alguma coisa animada, nova, uma banda que ela nunca ouviu antes. Acha uma merda. Moderno demais.
Os ponteiros do relógio não podem estar em seu estado normal, definitivamente estão letárgicos hoje.
Já é quase a hora do almoço, no entanto a espera parece quase como se 100 anos ainda não tivessem passado para que os ponteiros possam se encontrar no século que vem.
Vários dos seus colegas de trabalho lhe perguntaram sobre memorandos, reuniões, atas, listas de coisas que ela não faz a menor idéia de onde, por que, quando e se existem.
A sensação de incredulidade, abandono e engano estão onipresentes em cada respiração, em cada batida do coração para bombear o sangue para todas as partes do corpo que também doem.
A garganta já não sabe o que é relaxar, está tensa e seca, como se algo continuasse preso e se recusasse a descer goela abaixo.
Todos os anos cismam em perspassar pelos olhos, mesmo usando todo o poder de concentração para responder um simples e-mail, os aniversários de casamento insistem em se exibir como atrações de circo.
A vontade de desaparecer sem deixar rastros toma conta do corpo, da alma, do espírito. Pra onde? 
A dúvida se o seu desaparecimento fará alguma diferença na vida de quem quer que seja.
O pensamento voa para a família. Os amigos? Muito ocupados. É isso. Descobre que seus pais não a abandonariam. Jamais.
Hora do almoço. Ela não tem mais fome, claro. Mas vai se empanturrar do quer que seja, só por distração.
Bobagem que coração partido emagrece, só em novela.
Na vida real você vira uma jamanta, deprimida, cheia de rugas e sem perspectiva de melhora.
Dois dias apenas.
Em uma semana ela se sentirá melhor, isto é, se não se matar antes, é o que todos dizem. Mas ninguém disse a ela, ninguém sabe ainda.
Só fazem dois dias.
E ela entrará em colapso nervoso dentro de poucas horas.