terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ah.

O retorno do fôlego
Sobressai, sobrepõe
A lembrança do gosto
Ensaia, muda
Música, nojo
Tudo se entrega
Nada se repõe
Depois que é fim
Esquece
Desnuda e veste
Expõe

no cair das gotas

não nos damos conta de como são ínfimas as partículas de H2O para preencher um grande espaço.
apenas nos percebemos submersos a elas de uma hora pra outra. quando já estamos quase nos afogando.
e quando isso acontece, a que ou quem recorremos?
não recorremos, acho.
esperamos só que chegue o fim, e que nele não soframos muito.
que seja breve.
ou ainda que aconteça um milagre.
que alguma força natural nos leve juntos para uma praia, ou um porto.
que lá esjamos seguros, juntos, repito, juntos e felizes.
isso quase nunca acontece.

sábado, 18 de setembro de 2010

Os sapatos e os laços

Achados no acaso
Os sapatos e os laços
Se encontram e contaminam o ar do espaço
Se entrelaçam entre nós e fios tecidos a gosto
Se separam como duas metades de uma fruta já podre
Acabam perdidos no mundo
Um sem saída
O outro de cara no muro
Na dor são dois guerreiros
Sucumbidos no escuro
Se amam eternamente, mas um e outro já não são os mesmos
Se calam num vazio desgostoso
Erram em qualquer lugar
Deles sobram somente restos
O pés descalços e o emaranhado de cachos

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Deveria ter vindo ao mundo sendo flor.
Florescer na primavera, me apaixonar por beija-flores, sentir a terra nos pés, morrer antes de empalidecer.
Ou então gostaria de ter nascido nuvem.
Vagar pelo céu azul, derramar gotinhas na terra quente, parecendo um algodãozinho úmido expremido por dedos delicados.
E se eu tivesse nascido estrela?
Teria bilhares de anos brilhando, teria todos aos meus pés, seria a mais bela do céu.
Ainda se tivesse sido lua.
Seria refrão de canções, seria encanto nas lendas contadas de pai para filho durante muitas gerações.
Ah, mas queria eu ter sido Maria.
As Marias são bem mais decididas, são mulheres de força e grande capacidade intelectual.
Ou ainda melhor, ter sido Ana.
As Anas são doces e são azedas, são criaturas encantadoras e são tão suas, donas de si.
Mas não nasci nada disso, nasci assim, sendo eu.
Sou Thais e nem faço força. Vejo o mundo com muita miopia e astigmatismo, invento quando não sei e quando tenho preguiça ouço como um surdo ouve. Sou baixa e gorda, mas sou feliz. E as vezes tenho vontade de ir embora e ligar um foda-se bem grande.

O ovo, meu ex-ovo.

Acho que é nova de novo
Mesmo ainda sendo a mesma
Como se saisse de vez de dentro do ovo.
Ainda que não quisesse estaria de fora, vendo tudo ao redor, mudando sempre de ideia.
Vendo tudo ir embora, vendo tudo voltar de onde nem se sabe.
Vendo os encaixes passados com todas as peças erradas.
Não se sabe de onde veio essa vontade de nada, mas sabe-se que dela nascerão as novas verdades...
verdades de alguém que antes não se importava com tudo e que agora se preocupa com nada.
Verdades essas que se tornam tolas, já que vem de alguém que mal quebrou sua casca do ovo e já põe asas de fora e quer gritar por seus direitos de ser vivo. Já pensou?
Já. Quem já saiu do ovo já pensou e muito nisso, já passou por isso. Quem diria, ahn? Que um dia um ser pequeno desse pudesse ser assim tão grande, sujo, gordo, cheio de pecados, cheio de rancores, cheio de coisas que não o perturbavam dentro do ovo.
Gostaria de não sair da minha casca. Tudo era tão bom e amarelo lá dentro que penso que, talvez, o paraíso seja desse jeito. Bom e amarelo.
Adeus ovo.