sexta-feira, 26 de abril de 2013

Inveja


Escorre da boca
Contamina o corpo
Exala o odor que entorpece o outro
Amacia palavras que espetam no âmago
Amarram os braços delicados das moças
Prendem na garganta palavras vorazes 
Não serão proferidas, bem como as pazes.
Provoca angústias, revoltas, despertam monstros
Pecados eminentes que, outrora adormecidos, agora despertos
Espertos, com vontade e sede de vingança.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Série Poemas Imaginados e Combinados

Imaginário saboroso
Quem te diz inexistente
Não sabe o gosto quente
Do meu beijo na tua pele
Na pele que não se toca
Sem a menor suspeita
Todos riem do meu amor
Porque sou só ou por ser carente
Beijo um senhor bem apessoado
Só que imaginariamente.




Kissing Magritte - Joe Webb




Série Diálogos Pelo Caminho

Diálogos no amor.

- Você não serve mais. É como um vestido que eu gostasse muito, mas que não me servisse mais.
- Então eu sou um vestido que não te serve mais?
- Basicamente.
- Você sempre diz algum absurdo. Eu até que gosto.
- Eu não sei do que você está falando. Não disse absurdo nenhum. É que a gente não tá mais se encaixando mesmo.
- Você acha? Será porque eu to trepando com a secretária do Rodrigo? Ouvi dizer que quando o cara tem uma amante a relação muda mesmo.
- Até parece. Uma gostosona daquelas dando pra você?
- É. Ué.
- Acho que você é esquizofrênico.

Diálogos de flerte.

- Então você tem negócio próprio...?
- Tenho.
- Qual o lucro mensal? Ah, desculpa a indiscrição.
- Hum, eu não sei direito. Minha irmã que cuida disso.
- Filhos?
- 2.
- Namorado?
- Haha, você é da polícia é?
- Na verdade sou, mas não tem na a ver com isso... cê é linda sabia?
- Obrigada. Você é charmoso. Quer tomar um chopp?
- Vamos.
- Aí você me protege do perigo. Haha.

Diálogos pela salvação

- Você ainda gosta dele?
- Não. Já te disse que não. Aquilo passou.
- Mas e se você ainda gostasse dele?
- Aí eu não estaria mais contigo.
- Você me ama?
- Amo. Amo muito.
- Que bom. Assim você pode sofrer como eu sofri, quando descobri que você estava me traindo. Tô gostando de outra pessoa.
- O quê?
- Tá doendo? Diz que tá. Por favor.

Diálogos da paixão

- Te dou dois desejos.
- Dois? Quero mil.
- Te dou só dois (beija)
- (beijando) Você é demais. Quero ficar contigo até ficar velho.
- Haha, quando você estiver velho eu já vou ter morrido a muito tempo, baby.
- Nada disso, você vai ser uma velhinha mucho loca.
- Não vai dar tempo. A gente não vai ter filhos.
- A gente adota um curuminzinho. E fica tudo bem.
- Pedro, só tenho mais um ano no máximo. Vou sentir tua falta.
- E eu a tua, cunhantã.

Diálogos de fim

-Oi, tudo bom?
- Opa, como é que vai?
-Tudo ótimo.
- Tranquilo.
...
(silêncio constrangedor)
- É isso então.
- É.
- Bacana te ver. Vamo marcar qualquer coisa. Eu te ligo.
- Tá bom liga mesmo.
- Ligo. Tu ainda tá com o Tim?
- Nunca tive Tim.
- Ah.
- Beleza então. Tchau, tchau.
- Falou. Beijão, querida.
...
-(ele à parte) puts, como era o nome dela?
-(ela à parte) ele esqueceu meu nome, eu esqueci da onde eu conheço ele.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Morte ao entardecer


Encontro com ela.
Num último instante.
Faltando suspiros, batidas marcantes
Ouve-se o mar nas pedras distantes
Para todos os efeitos, aguardo.

Ela chega no alto da torre
Onde minha alcova me espera
Onde preparo o adeus
Com  olhos cobertos
As mãos me protegem de vê-la.

Ao pôr-do-sol, à espreita
Ela controla meu ser
Leva-me embora
Janela a fora
Voamos juntos num delírio,
num sonho, num desespero,
num prazer.

É o destino, é a morte
São irmãos de nascer
De morrer são cúmplices
Agora esvazia
O último gole, último vislumbre de vida
Sob as janelas dos olhos a luz se apaga
A alma congela
A vida se esvai.
E agora?
Paralela em outro mundo.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Na sala de espera

Três pessoas.
A primeira é mulher.
A segunda é homem.
A terceira é homem.
A primeira está sentada no lado oposto da sala.
O primeiro homem está sentado ao lado do segundo homem.
O segundo homem e a mulher se entreolham em pequenos intervalos.
O primeiro homem lê o jornal.
A mulher cruza e descruza as pernas.
O segundo homem afrouxa a gravata em seu pescoço.
O primeiro homem abaixa o jornal, endireita o óculos.

Sucessão de fatos.

O primeiro homem olha para o segundo homem ao seu lado, em seguida olha para a mulher. Olha boquiaberto para o segundo homem. Se levanta. Quando a recepcionista o chama. Osvaldo Siqueira. O primeiro homem segue em direção à sala. O segundo homem se levanta, segurando o braço do primeiro homem (Osvaldo Siqueira) e diz: Vou entrar com você, tá?